Porquê a Renamo teve um resultado abaixo donde Dhlakama deixou o partido?

O melhor ano eleitoral para a Renamo foi 1999, correspondente às segundas eleições gerais multipartidárias no País. Nesse escrutínio a Renamo conseguiu fazer eleger cento e dezassete (117) Deputados para a Assembleia da República e, o seu candidato, Afonso Dhlakama, ocupou a segunda posição na corrida para a presidência da República com 48% dos votos do eleitorado.

A taxa de participação do eleitorado nas eleições de 1999 sitou-se nos 74% e, em grande medida, as campanhas eleitorais de todos os partidos políticos e candidatos presidenciais concorrentes, decorreram num ambiente calmo e pacífico. Foi nessa altura, que se cristalizou a análise segundo a qual as eleições em Moçambique seguem o seguinte roteiro: alguma crispação entre os apoiantes dos diferentes partidos e candidatos antes das eleições – ou durante as campanhas eleitorais – seguidos de uma votação, geralmente tranquila e pacífica, dando lugar, depois, a um momento pós-eleitoral marcado por contestação dos resultados e ocasionais actos de violência.

Na corrida para as eleições de 1999 a Renamo formou uma aliança eleitoral com doze pequenos partidos e o seu candidato presidencial, Afonso Dhlakama, obteve o apoio explícito dos líderes destes partidos – onde se destacavam políticos muito conhecidos, na altura, como Domingos Arouca (FUMO), Máximo Dias (MONAMO) e Lutero Simango (PCN) que abdicaram da possibilidade de concorrerem à presidência para apoiar a candidatura de Afonso Dhlakama incluindo fazendo parte da sua campanha eleitoral. Com este acto, a Renamo adquiriu uma dimensão mais civil e urbana que serviu, nessa altura, para reduzir o forte pendor militar e rural da sua origem e raison d ́être.

Para a Frelimo, por seu turno, o seu melhor ano eleitoral foi 2009, correspondente às quartas eleições gerais multipartidárias. Nesta ocasião a Frelimo fez eleger cento e noventa e um (191) Deputados para a Assembleia da República e, o seu candidato presidencial, Armando Guebuza, assegurou as chaves do Palácio da Ponta Vermelha com 75% dos votos do eleitorado. Estas eleições foram marcadas por uma baixa participação do eleitorado – apenas 44% – com níveis ainda mais baixos (mais de 60% de abstenção) nas províncias da Zambézia, Nampula e Niassa. As campanhas eleitorais, realizadas nesta altura, foram acompanhadas pelo espectro da fraude e da desconfiança interpartidária. Todavia, em termos de paradigma não fugiram muito à lógica dos primeiros escrutínios: desinteligências entre partidos políticos e candidatos presidenciais antes das eleições, i.e., durante as campanhas eleitorais, votação pacífica e sem sobressaltos, seguida de contestação dos resultados e ameaça de retorno à violência. Foi ao redor das eleições de 2009 que, ao nível da Academia e dos círculos mais avisados da opinião pública, falava-se insistentemente da ideia de a Renamo estar a abandonar, relativamente, o seu espaço no xadrez político nacional e a Frelimo, por seu turno, a se transformar em partido dominante, para alguns e hegemónico, para outros. De algum modo, o estilo de liderança pessoal do líder da Re-namo, Afonso Dhlakama, era apontado como par-te do problema que a Renamo atravessava no momento, sobretudo na sequência da expulsão das fileiras do partido de figuras influentes como Raúl Domingos e Daviz Simango.

Tomando como ponto de partida o desempenho da Frelimo e da Renamo em todos os escrutínios eleitorais gerais, multipartidários, de 1994 até 2014, numa retrospectiva histórica, e olhando atentamente para os resultados do último escrutínio, é possível descrever os factores que influenciam os resultados eleitorais e que, por conseguinte, podem concorrer para fornecer pistas acerca das razões que levaram a Renamo a ter um resultado abaixo daquele que, em diferentes medidas, foi possível atingir em vida de Afonso Dhlakama.

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